terça-feira, 25 de dezembro de 2007

...


"Acendeu um cigarro e fumou apenas a metade; o vento encarregou-se de fumar o resto."

E eu tenho mesmo que gostar dessa cara porque ela é a minha cara?
Já ouvi que esse nariz, várias vezes até, sou eu. É, então, talvez, o retrato de minhas vivências: a poesia feia de meus amores imperfeitos.

Lestes tanto e tão pouco sabes, meu bem.

O cheiro de cigarro agarrava-se a seus dedos. E esse cheiro também era ela. Esse cheiro que invade suas narinas redondas, seu nariz largo demais (sem nunca deixar-lhe os dedos).

Sou artista, estrela de minha criação, "uma forma nebulosa feita de luz e sombra" que toma posse do sujo e do belo, que molda e mata. Sou qualquer coisa então no intermédio meu e do outro.

Está ela começando a gostar de suas mãos, dos dedos tortos que herdou da família Cavalheiro e das unhas vermelhas que ela mesma pintou; unhas vermelhas que são como que o transbordar de sua vaidade.

E vejo que tudo que é torto e estranho sou eu também. E gosto de mim mesma quando gosto do frio, quando meu cigarro deixa de ser um prazer fútil e passa a ser, na verdade, um ritual de minha solidão. Um ritual bom.

Ela gosta de si mesma quando objeto de sua própria reflexão.

E lhe dá imenso prazer a verdade de seus sentimentos, ao menos consigo mesma, e bem no fundo de si.
Sua dissimulação, em momentos de bem estar, é quase a prova de sua pureza.

Labirinto da paixão. Ingênua, deixa-se perder.

E joga, afobada, palavras no papel, como se essas, de alguma maneira, tirassem algo de si.

Por favor, leia as cartas que te escrevo.
Elas estão como que a flutuar em torno de nós, em torno da nossa história (história à qual ela se agarrava como que a provar razão pra tamanha loucura).

Minha dissimulação é o medo que tenho de enviá-las; mas aí elas estão, no meu nariz redondo (que é como o prenúncio de meu despeito), no cigarro (que fuma como que a mergulhar no outro de si), dedos tortos de unhas vermelhas (que são como força a saltar-lhe das extremidades).



Por Anita Petry

sábado, 22 de dezembro de 2007

Ouvi sobre uma francesa.


(escrito originalmente em abril de 2007, também sob o cheiro de gasolina e pipoca da cidade maravilhosa)
Ouvi sobre uma francesa. Me lembro que falava espanhol, mas, se não me engano, era francesa. Essa moça conheceu um brasileiro que perambulava pelo seu país, um brasileiro que se apaixonou por ela. E toda sua vida passada (meus tão intransponíveis obstáculos) não passou de lembrança bonita pra enriquecer sua história presente.
Conta-se que ele voltou pro Brasil, mas que seu coração continua
perambulando pelo país da moça, a moça que falava espanhol, mas que, se não me engano, era francesa. A moça pela qual o rapaz se apaixonou.
Isso eh realmente possível, meu deus?!
Conta-se, na verdade, muita coisa, muitas histórias diferentes e nunca, nenhuma, se parece com a minha. Nenhuma me parece possível.
A minha história, a minha sina, creio que seja mesmo preencher alguns espaços vazios, por um tempo determinado, viver paixões fugazes; verdadeiras, mas intermediárias.
E me dói tambémé verdade, unicamente dançar sobre a história das pessoas, levar só um pouco de música, só um pouquinho de cor, pois assim como entro, saio, rodopiando na ponta dos pés pra não deixar marcas, pra não machucar, pra não fazer alarde.

Mas que saco esse meu desejo incessante, infantil e fraco, de que apareça um homem pra me amar loucamente, um homem feito pra cuidar de mulher forte.

Talvez minhas tardes sejam pra sempre azuis, e não hajam assim tantos desejos.

Por Anita Petry

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Uma Pessoa Conquistável




(Esse texto foi escrito dia 16 de Abril enquanto me hospedava na casa da Mila, no Rio, numa suposta visita de apenas uma semana. É claro que a semana acabou virando um mês inteirinho maravilhoso que nos rendeu saudades imensas do que não foi vivido ainda e até planos de moradia definitiva!)

Fui ao supermercado e comprei só o essencial

[pois é verdade: a grana está curta].

Voltei pra casa e esperei os eletricistas instalarem o apartamento

[pois é verdade: onde absolutamente nada funciona, tudo (se deus quiser) entrará na normalidade].

A Mila foi pra faculdade e eu fui cozinhar o jantar. Tomei banho. Fumei um cigarro (que merda. eu sei) e fui a um CyberCafé estabelecer contato com o mundo, embora eu me sinta bem no centro dele.

Resolvi ir ao cinema. É, não tinha nada pra fazer e a Mila não sairia da faculdade até as 10 e 30.

Escolhido o filme, O CHEIRO DO RALO, e escolhido o cinema, a CASA DE CULTURA LAURA ALVIM, tratei de bater pernas pra chegar a tempo. Fácil, fácil.

Sensação de vitória; cheguei uma hora antes da sessão e meus conhecimentos sobre Ipanema não me decepcionaram.

Comprei o ingresso pagando meia entrada graças à bondade (ou ingenuidade) da moça que cedeu porque eu era de fora, apesar de não possuir o comprovante de frequência.

"Aqui no Rio, todo mundo tenta enganar a gente usando carteirinhas que não valem..." A minha, é claro, se encaixava na categoria da falcatrua citada.

Matando o tempo que faltava, caminhei um monte pela beira da praia silenciosa, tomando uma água de coco e... PÁ! Me apaixonei pela cidade.

Pessoas, turistas, varandas.

A cidade me conquistou.

"Como sou conquistável, meu deus!" eu pensava. Foi só eu me distrair que a cidade maravilhosa me beijou.

Não sei se foi só a cidade ou aquela Ipanema noturna.

Acho que foi o supermercado, a Mila na faculdade, o cheiro de alho do jantar, o disco do Caetano na barraca de coco, o calçadão, o cara ao lado falando francês, as varandas à beira-mar... Acho que foi o cinema que eu esperava pequena diante de tudo aquilo ou o medo desse mundo gigante paradoxalmente enredado na minha ânsia de abraçá-lo. Sozinha.


Por Anita Petry

domingo, 25 de novembro de 2007

O Direito a Desconectar-se

A gente muda.
Eu que nunca chorei na frente de ninguém, hoje não vi graça em chorar sozinha.
Era como se as lágrimas não conseguissem mais purgar a dor.
Elas saíam a rodo, como se costuma dizer, saíam e as mãos continuavam tremendo, o coração, sempre, desembestado, ansioso demais, sedento, infantil.
E eu empalidecia ao ver, bem aqui, diante de mim, o retrato do meu medo, a verdade que escondo de mim mesma, malandra, o sofrimento que eu não deixei atracar no meu cais. Eu, forte demais.

Veja a minha poesia, a minha devocao toda, por favor.
A tecnologia não desconecta mais as coisas?!
Eu quero me desconectar!!!

A centenas de quilômetros de distancia, é covardia do acaso me fazer enfrentar um mundo inteiro de “nunca mais.” É covardia do acaso jogar assim na minha cara o amor que eu pensei ter enterrado. Ele apenas dormia, distante de mim. E, é verdade, meu bem domina o universo das conexões e faz seu mundo chegar ao meu, risonho, saudoso, alegre. A mesma alegria que tanto me podou, me diminuiu, me recolheu. Agora eu aqui, mais uma vez, amedrontada, trêmula, insegura como havia jurado não me permitir mais. É covardia do acaso me fazer falhar mais uma vez. É covardia do acaso invadir uma luta por findar pra berrar na minha cara que a estratégia é inútil, que é derrota sabida.

Eu amadureci. Mas amadureci pra ser amada. Pra viver de novo tudo que já passamos e poder corrigir as cagadas todas, entende? Mas o que passou não volta, e o meu aprendizado nunca vai mudar nada.

(desespero de ter perdido aquele amor novo que fostes um dia)

Tudo o que está por vir, ainda não veio. Não amadureci o suficiente, tão longe disso, pra encarar as velhas promessas, pra enfrentar a minha dor enferrujada, tirá-la do fundo do armário.

A gente não tem que aprender a lidar com tudo e se eu coloquei essa merda dessa frustração pra dentro da gaveta é porque não queria mais vê-la!!!!

Como assim? Pra onde foi a minha plenitude?? Porra, jogava conversa fora com ela há míseros minutos!! Não se esconde de mim, não... O acaso me paga.
A sincronicidade da vida, que responsabilizavas por tudo que é belo e inesperado, há de me pagar.

O pranto tão cantado da dor do amor molha o meu colo enquanto discorro por essas palavras. São minhas, me fincam, me são parte. Agora meu texto existe, está aqui diante de mim.

É um alívio enorme ter companhia.


Por Anita Petry

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Tic-tac-tic-tac...



Seis e vinte da tarde. Acabei de entrar em sala de aula e me acomodar na cadeira. A sensação de sentir meus músculos descontraírem um a um é quase orgásmica. É a primeira vez que me sento ao longo do dia... Passei as últimas seis horas ou mais ziguezagueando entre as cinquenta mesas do restaurante em que trabalho. Distribuindo sorrisos amarelos e esbanjando simpatia para quem nunca aprendeu a ser simpático (Pela simples razão de não precisar ser). Me esquivo de fazer qualquer esforço para entender a conversa que se desenrola a minha frente. Quero aproveitar esse momento. Sentir meu corpo relaxar e esquentar. Assistir meus dedos ganharem cor novamente... Sim, esfriou por aqui.Termômetros já marcam 32 graus Fahrenheit. O que isso significa? Experimente passar alguns minutos dentro de um congelador... Celsiusamente falando, zero grau. Nada mais, mas, muito provavelmente, menos. Questão de dias.
A chegada o inverno anunciada pelo Halloween reflete no astral das pessoas. No meu, principalmente. Me abstenho de fazer qualquer associação à data. Confesso não ser mística o suficiente para creditar uma sucessão de acontecimentos infelizes ao dia das bruxas. Mas não tenho como negar uma estranha coincidência. Será que deveria ter dado doces para aquelas crianças gordinhas de bochechas rosas que bateram na minha porta no último dia 31? Diz-se por aqui que o infeliz que não corresponde ao tal do trunk-or-treat está condenado à um ano sombrio e será atormentado por mortos-vivos nos próximos 12 meses. Sim, presentear as pequenas bruxas e franksteins com guloseimas variadas é a garantia de que sua alma será salva. E eu que pensei que não contribuir para a obesidade precoce dos americaninhos seria um bom negócio nessa história de pecados. Whatever. O fato é que simultaneamente aos ventos cortantes, uma crise familiar, uma intoxicação alimentar, quinhentos dólares debitados e não sacados e uma TPM sem precedentes tiraram a minha paz(ou algo parecido) nessa vida que palpita no meio da maior confusão da oitava avenida. Com todo o drama que me é peculiar, mergulhei num mar de questionamentos. E acuada pela opinião alheia, me tranquei em meu cubículo com vista para os fundos de um restaurante mexicano. Que sorte a minha. O dono deixou uma única árvore, já quase sem folhas, para me conectar, ainda de maneira imprópria, à energia da natureza. O sol não me alcança dali. Mas posso perceber sua coadjuvante presença nesses dias frios, quando me esforço para enxergar a copa do meu amigo eucalipto. Tenho coisas a fazer. Várias delas. Escrever e.mails, estudar, procurar um emprego mais excitante... Tenho que ligar para alguém? Provavelmente. Em vez disso, fico sonhando com as possibilidades. Taí. Virei prisioneira de tantas possibilidades. Ter muitos caminhos a escolher me paralisa. Essa imersão em meus pensamentos me atormentam. Olho ao meu redor. O tempo não passa. Um café. Café ajuda a passar o tempo. Outro ensinamento dos tempos corridos de redação.
Minha barriga roncou. Acabo de me lembrar que não coloquei nada no estômago além de diferentes sabores e variações de café...
“Do you have any questions?” Uma voz longínqua me força a aterrisar.
“None. This has been hopeful. Thank you”, respondi de sopetão.
Voltei. Oito e quarenta da noite. Acabou a aula. Preciso comer alguma coisa.

Cadija Tissiani

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Desculpe-me pela paz.


Minha intencao nao eh, de forma alguma, fazer com que ela te invada.

Nao quero fazer essa paz te invadir. E, meu amor, eu juro que nao permitirei que ela me salte aos olhos, tentando enfrentar o teu caos. Juro que deixarei essa paz imensa, quase que imperceptivel, adormecida dentro de mim.

Nao permitirei que ilumine o meu sorriso, tampouco adoce meus beijos, que sao teus.

Essa paz maldita que teima em abrandar a minha dor, que teima em me por a voar, nao sera afronta ao teu pesar, nao sera indecencia, muito menos arrogancia diante de ti.

Mas deixe-me ficar com ela.

Eu lhe imploro, meu amor, que nao tires essa paz de dentro de mim.
Se assim permitires, prometo ate me esquecer da existencia de tal imensidao.

Prometo pessear pelas ruas, descer as ladeiras da nossa cidade, tao nossa, como uma pessoa ordinaria, qualquer. Terei absolutamente nada de especial no olhar, no gestual, nada que seja evidencia dessa paz.

Meu jeito menino de tentar ser feliz fez nascer essa calmaria dentro de mim. E isso nao quer dizer que nao lutes por nos. Nao por conservares tanta confusao.

Cada um segue um caminho. Os nossos se desenrolam lado a lado, eu sei, meu amor, mas nao pisamos na mesma trilha. E a vida ensinou que nos nao temos que pisar.

Eu arranco os cabelos, grito, imploro, vivo em meio ao caos pra nao tirares essa paz de dentro de mim. Se estiveres ao meu lado, digo e repito, vivo em meio ao caos. Mas preciso desse afago, da plenitude que essa paz eh em mim.

A verdade que doi, e que ja eh pontada em meu peito, eh a certeza que eu carrego de que mesmo precisando dessa paz pra ser plena, preciso de voce pra respirar.
Te imploro aqui que aceites essa paz, porque se nao aceitares, meu amor, minha vida, ela me deixara. Assim, sem mais nem menos, sem se despedir, sem me deixar falar, sem ouvir meu soluco, sem entender meu medo. Me deixara porque, contra tudo que sei, eu vou permitir.

O caos do teu olhar vai invadir meu coracao por completo. E a vida seguira.


Por Anita Petry

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Sobre esse tipo de pessoa ...


Humm...
“Meu pai é desse tipo de pessoa”, escutei por aqui. “Ela é mesmo o tipo de pessoa que faria isso”, ouvi dali. Já perdi inclusive as contas de quantas vezes fui agraciada com tão grande e igualmente inexpressivo adjetivo. Também não me “incluo fora dessa”, não. Muitas vezes me flagrei desejando não ser “esse tipo de pessoa” ou simplesmente denominando um determinado tipo de pessoa de determinado tipo de pessoa.
Pois bem. Sim, eu sou desse tipo de pessoa. Insegura, contraditória, intensa, mutante. Boa na essência. Má na efevercência. Desejo o bem, mas minha consciência não me permite afirmar que nunca desejei o mal. Choro de me arrebentar, rio até me acabar. Quero ir, mas também quero ficar. Tenho medo de começar por não saber como vai acabar. Ou de acabar, por não saber o que começar...
Sim, eu sou esses, e quantos mais existirem, tipos de pessoa. E isso não me faz melhor, nem pior. Mas me torna exatamente igual a você. Minha qualidade mutante me joga para o mesmo saco de farinha da espécie humana.
Ihh... Será que me bateu um bipolar?
Sim, eu também sou desse tipo de pessoa.


Por Cadija Tissiani

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Às Cegas - Exercício Literário


O texto é dadaísta, mas até fez um certo sentido... nesse momento, encontramos, ou pelo menos buscamos, resposta para toda e qualquer indagação. Resultado de uma tarde à toa com cerveja amarga e coração apressado. Ou seria apertado?

“Naquela época seus pais provocaram nela um transtorno emocional que deixou cicatrizes difíceis de apagar”. Será essa a nossa sina? No. I hate that.
Por mais que te doa ouvir isso, a minha vontade é de me abster. Não diga nada. Quero ouvir o silêncio. “Deixe que o beijo dure. Deixe que o tempo cure”.
Mulherãozice. Coisa de mulher madura. Coisas de mulher que conhece os homens.
Amo nossas histórias. Ao mesmo tempo, as odeio do fundo da alma. Me libertam e me aprisionam. Desassossegado, Fernando Pessoa escreveu: Quanto mais as preparava, mais inacabadas ficavam. Inacabadas e inacabáveis.
Qualquer semelhança com a vida real é mera coincidência.
Eu queria era ser tudo aquilo que não consigo. E os letreiros me engolem. O trem me carrega, e a presença dos turistas aflora a minha solidão.
Solidão, que de tão imensa vira doença. Mas, não. Não tenha medo de enfermar-se. Ela também passará, quando encontrardes a ti mesmo.
É claro que vai dar tudo certo. Algo muito superior olha por nós. E a canoa pequena, artesanal já atravessou o oceano. Sim, foi como uma bala de revolver cruzando a nossa cidade, como você atravessando a minha vida.

Por Anita Petry e Cadija Tissiani

terça-feira, 9 de outubro de 2007

..CartA PostadA..


Amigo de Brasília,

Nossa, meu amigo! Quantos amores você tem vivido! A vida aqui anda corrida, agitada, doída até. E paixões não têm tido muito espaço.
Por vezes, me lembro das histórias malucas pelas quais essa Brasília de cores me viu passar. E tenho saudades.
Saudades do pânico adolescente, de quando a gente tem cer-te-za que vai morrer de amor.
Hoje em dia, sabendo que disso não morro mais, deixo aquela dor fininha que dá no peito ir e vir como bem entende. Ela manda na gente.
A tranqüilidade me faz diferente.
Encaro essa cidade com um desespero desenfreado que, de repente, me surpreende por conter em si uma maturidade incrível, que me acalma e afaga o ego.
Somos competentes.
Digo e repito: essa cidade estranha aqui, que carrega o mundo todo numa esquina, não me engole.

A saudade que tem me atormentado é da cidade daí. Que é a saudade de casa, dos amigos, de histórias. Brasília tem uma poesia, que é diferente da magia tropical do Rio, que enlouquece forasteiros e os toma o coração por completo, ou da loucura de Sampa, que tenta enganar a gente chegando na hora e abrindo poupanças.
Ainda nova e já tão cantada. Brasília menina.
A saudade que tenho desse planalto vermelho é saudade da minha vida de patins e pôr-do-sol, de teatro, conic, rock'n roll.
Minha vida de copos e kibes (tantos!), de Arleudos, Cíceros, Feitosas...

E agora aqui, sob o calor infernal que os arranha-céus trancam na cidade, a circulação do capital que nos assusta com sua atroz velocidade, e a batalha diária que se trava em torno dele, curioso é o meu andar por entre suas ruas e avenidas. Já desço a cidade a pé como que me adonando de suas luzes, de seus ares. Nuevos Aires.

E minha latino-americanice, minha saudade toda, latina, exagerada, cheia de si, fica guardada nas coisas que eu vivi.
Assim como um dia tanta gente desembarcou nessa cidade menina (onde eu, menina, também cresci), há pouco parti, sozinha. Preciso crescer longe dela, longe do aconchego de seus números e de sua solidão. Sim, essa solidão burguesa que a gente dribla num piscar de olhos, você sabe.
Ela me ensinou lições que tenho posto a prova, sem falsa modéstia, por vezes, de forma brasileira magistral.

Não, não tenho novidades. Ainda tô fodida, lascada e sem dinheiro, mas as boas intuições me deixam serena e feliz.

Aguardo ansiosa as tuas palavras, que sei lá como as escolhe debaixo desse céu de nuvens raras e de tanta poesia.

Beijos,
Sua amiga de Nova York.

Por Anita Petry

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Nós, os palhaços


A Anita veio toda orgulhosa me mostrar o texto, muito bem escrito por sinal, em que sua irmã mais nova é citada como uma das grandes promessas para o teatro brasileiro. Bah! E não é que a guriazinha, do alto de seus 13 anos, colocou o nariz de palhaço, subiu no picadeiro, encarou, com a segurança que nem os mais experientes desfilam, uma plateia de sei lá quantos e arrancou sorrisos e gargalhadas até dos mais avessos à palhaçada. Não conheço a corajosa Nina, mas me orgulhei de seu potencial revelado e reconhecido.

Enfim... o fato é que lendo sobre a arte do palhaço, e sobre o quão difícil, por mais contraditório que isso possa parecer, é fazer pessoas sorrirem, encontrei uma espécie de lição que serve pra todo mundo. Porque no fundo, bem lá no fundo, somos todos um bando de palhaços tentando nos desviar dos tomates nesse enorme picadeiro. E, sim, agoniza um frio na barriga só de pensar que alguém pode querer mirar um tomatão em você. E mais ainda que o tomate, as latas de cerveja, as cascas de banana podem te acertar e até te derrubar. E aterroriza pensar que você vai ter que levantar e encarar toda a platéia de novo. ‘Eles vão achar que eu sou um palhaço’, você sua frio e pensa cheio de orgulho. E depois congela. Mas, peraí, não é exatamente essa a proposta?A queda é parte do jogo, minha gente. Do palhaço em cima de palco, e dos palhaços embaixo dele. A questão é a importância que você dá a ela e isso pode determinar inclusive o nível do seu desenvolvimento. Ou seja, assim como é impossível um palhaço ensaiar e não se apresentar, não podemos nós treinar e não jogar, não se arriscar, não cair. Afinal, é mais digno perder lutando do que nem tentar. E uma vez que a adrenalina cumpre o seu papel, todo o resto entra no ritmo.

“No início, o corpo é duro, débil, o pensamento não se conecta com o corpo e você só apanha, cai, fica imobilizado, sem reação. E assim você caminha, até que, com o tempo, seu corpo vai adquirindo um certo molejo, esperteza, e, aos poucos, aumenta a capacidade de improvisar dentro daquele repertório de movimentos, de surpreender. O aluno aprende a jogar jogando e, conseqüentemente, aprende a cair”, dizia o texto.

Too much???



Por Cadija Tissiani

segunda-feira, 1 de outubro de 2007


NYC 27/09/2007 (bêbada de tarde)

Peço desculpas se lhe dói ouvir isso. Mas a tua felicidade é uma afronta a minha dor.
Sim, claro! Faço tanta questão de viver. E essa felicidade superficial, quase cinematográfica, a vida linda e indolor, me tira do bom-humor raro com o qual me acordei essa manhã.
Reviro minhas dúvidas, escancaro minhas gavetas, coço minhas feridas. Mas sofrer é coisa de fracos, eu já sei!
É porque nos ensinam errado.
É porque só o viciado consegue largar as drogas. É só embriagado que choras dores empedradas. É só num insight, que é quase um transe, que algo é criado, que a arte toma vida. Toda grande criação vem depois do caos e se não há caos, sinto muito, meu bem, na tua vida litoranea não há grandeza, novidade. Nessa vida não há lição.

Um dia, falando de meu pai, minha mãe contou que durante a separação fez coisas que nunca se imaginou capaz de fazer. Ela disse que misturava whisky até no café e eu, boba, pequena, me assustei com aquilo, me decepcionei. Imaginá-la dentro do closet, chorando e tomando whisky, representava uma perda tão grande, uma dor tão vergonhosa da qual nem eu escapava. Aquilo parecia doer em mim.
Mas aquilo o quê? A purgação da dor? A válvula de escape que ela encontrara?
Eu estava errada. Era pequena. Me foi necessário tão menos do que um casamento de vinte anos pra ir muito além disso...
A idéia da força é uma merda de um conceito que a gente aprende. E ninguém tem que querer ser forte.
A vida é feita de perdas. E dores. Isso é o mais difícil de aprender.
É lindo dizer que errar é humano, ou que errar é viver. O difícil é realmente entender isso.

E, acredite, viver dói, amar dói. A novela não dói e quanto mais o nosso amor se parece com o cinema, mais medíocre ele é.
A vida é feita pra doer. E enfrentar essa dor toda (senti-la de verdade) é que é lindo. Muito mais lindo do que ser feliz e pleno sem nunca ter se virado do avesso pra escapar da insanidade.

Rainer Maria Rilke escreveu: “Que seria, com efeito, uma solidão que não tivesse grandeza?[...] Quase todos, em certas horas, gostariam de trocá-la por uma comunhão qualquer, por mais barata e banal que fosse; por uma aparência de acordo insignificante com quem quer que seja. Seu crescimento é doloroso como o de um menino, e triste como o começo das primaveras. Mas tudo isso não o deve desorientar. O que se torna preciso é, no entanto, isto: solidão, uma grande solidão interior. Entrar em si mesmo, não encontrar ninguém durante horas – eis o que se deve saber alcançar... Essa sua solidão há de dar-lhe, mesmo entre condições muito hostis, amparo e lar .”

Esse aprendizado é infinitamente lindo. Lindo do tamanho do mar.


Por Anita Petry

quinta-feira, 27 de setembro de 2007


Já passavam das 4h as manhã do dia 21 de agosto. O vôo rumo a uma nova experiência sairia em uma hora. Estava atrasada, como de costume. As malas no carro. A casa vazia. Me despedia do meu espaço... Um impulso quase inexplicável me fez colocar aquele livro na bolsa e partir. Poderia ter sido qualquer outro...
... Aquele livro... (suspiros)... Só viria a ser aberto duas semanas mais tarde, num dia de absoluta tristeza e agonizante sensação de solidão.
Tudo me pareceu familiar. Era como se fora eu a destinatária daquelas cartas, de tais palavras. Interagi com aquele livro (Cartas a um jovem poeta, de Rainer Maria Rilke) durante uma tarde bucólica no Central Park.
Não. Longe de mim qualquer pretensão ou predisposição para poeta, mas ali encontrei palavras e sentimentos em comum: vida, solidão, tristeza, amor...
Engraçado essa vida da gente. Engraçado como nossas respostas aparecem de repente. Engraçado como sentimentos tão assustadores são, na verdade, nossos grandes mestres. Lembro-me de ter escrito sobre isso, - sem muita segurança, confesso -, a um certo e importantíssimo alguém. Hoje, posso lhe dizer, era mesmo verdade...


"Aqui, tendo em redor de mim, uma possante região sobre a qual passam ventos vindos dos mares, bem sinto que nenhum homem pode responder às perguntas e aos sentimentos que têm vida própria no âmago do seu ser"... "O senhor é tão moço, tão aquém de todo começar, que lhe rogo com melhor posso, ter paciência com tudo o que há para resolver em seu coração e procurar amar as próprias perguntas como quartos fechados ou livros escritos num idioma estrangeiro. Não busque por enquanto respostas que não lhe podem ser dadas, por que não as poderia viver. Pois trata-se precisamente de viver tudo.Viva por enquanto as perguntas. Talvez depois, aos poucos, sem que perceba, num dialongínquo, consiga viver a resposta"
...


“Que seria, com efeito, uma solidão que não tivesse grandeza? Há uma solidão só: é grande e difícil de se carregar. Quase todos, em certas horas, gostariam de trocá-la por uma comunhão qualquer, por mais barata e banal que fosse; por uma aparência de acordo insignificante com quem quer que seja; com a pessoa mais indigna. Mas talvez sejam essas, justamente, as horas que ela cresce, pois seu crescimento é doloroso como o de um menino, e triste como o começo das primaveras. Mas tudo isso não o deve desorientar. O que se torna preciso é no entanto isto: solidão, uma grande solidão interior. Entrar em si mesmo, não encontrar ninguém durante horas – eis o que se deve saber alcançar... Essa sua solidão há de dar-lhe, mesmo entre condições muito hostis, amparo e lar . E partindo dela, encontrarás todos os caminhos. Todos os seus desejos estão prontos a acompanhá-lo.

...
Perigosas e más são apenas as tristezas que levamos por entre os homens para abafar a sua voz. Como as doenças tratadas superficialmente e à toa, elas apenas se escondem e, depois de leve pausa, interrompem muito mais terríveis. Juntam-se no fundo da alma e formam uma vida não vivida, repudiada, perdida, de que se pode até morrer. Se nos fosse possível ver além dos limites de nosso saber e um pouco além da obra de preparação de nossos pressentimentos, talvez suportássemos às nossas tristezas com maior confiança que as nossas alegrias. São, esses os momentos, em que algo de novo entra em nós, algo de ignoto: nossos sentimentos emudecem com embaraçosa timidez, tudo em nós recua, levanta-se um silêncio, e a novidade, que ninguém conhece, se ergue aí, calada, no meio.
Parece-me que todas as nossas tristezas são momentos de tensão que consideramos paralisias, porque já não ouvimos viver nossos sentimentos que se tornaram estranhos; porque estamos a sós com o estrangeiro que nos veio visitar; porque num relance todos sentimento habitual e familiar nos abandonou; porque nos encontramos no meio de uma transição onde não podemos permanecer. Eis porque a tristeza também passa: a novidade em nós, o acréscimo, entrou em nosso coração e penetrou o mais íntimo recanto. Nem está mais lá – já passou para o sangue. Não sabemos o que houve. Facilmente nos poderiam fazer crer que nada aconteceu. No entanto, ficamos transformados, como se transforma uma casa que entra um hóspede. Não podemos dizer quem veio. Talvez nunca venhamos a saber, mas muitos sinais fazem crer que é o futuro que entra em nós dessa maneira para se transformar em nós mesmos, muito antes de vir acontecer. Por isso é tão importante estar só e atento quando se está triste. O momento aparentemente anódino e imóvel que o futuro entra em nós, está muito mais próximo da vida do que aquele outro, sonoro e acidental, em que ele nos sobrevém como se chegasse de fora. Quanto mais estivermos silenciosos, pacientes e entregues à nossa mágoa, tanto mais profunda e imperturbável entra a novidade em nós, tanto melhor a conquistamos, tanto mais ela se tornará nosso destino e quando, num dia ulterior, vier a “acontecer” -- isso é, quando sair de nós ara chegar a outros – senti-la-emos familiar e próxima. Deve ser assim.”

Rainer Maria Rilke.
Por Cadija Tissiani

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

26/09/2007 (emmeioaumcolapsodestressnessamerdadessanovaiorque)


(ao som de Ronda Sampa, com Raphael Rabello e Paulo Moura)


A gente não muda nada.
O que muda é a vida. De repente, o coração também, mas só quando a gente não quer mais mudar, quando se distrai.
Será que a gente não muda mesmo nada?
Tantos artifícios criados –ou descobertos, recitados, escritos, compostos –tantas facetas, sempre pra purgar a dor, pra dar matéria pra transformação. A gente chora a dor do amor, a dor da solidão... “Vai, menino, e desconta logo tudo no coração, coitado!” A taquicardia amorosa, que faz doer na garganta, eh a mesma taquicardia da ansiedade, do medo do novo, da decepção consigo mesmo (que é muito pior do que com atitudes alheias).
A mesma taquicardia, sempre.

A música pra chorar.
A poesia pra verbalizar.

E, de repente, quando a gente se distrai, como se nada tivesse acontecido, a vida trata de voltar pro lugar.
Os processos são os mesmos, sempre.
Somos maquininhas de sentimento! E no teu amor, ou no dele, não tem nada de pioneirismo, não. Todo mundo vive a mesma coisa.
“E não me venha dizer que não entendo a tua dor! Também tenho calos, ora bolas!”

A história dos relacionamentos amorosos deveria evoluir como a história dos avanços tecnológicos. O conhecimento amoroso não é, como costuma dizer o meu pai, “cumulativo, tchê!”

A lei da gravidade só foi descoberta uma vez, enquanto a dor do amor exige que cada um de nós chore no banho, e depois na cama, no carro, no copo de whisky... Até que, enfim, aprenda a primeira regra do jogo; a de que aquele que faz mal simplesmente não vale a pena, por exemplo.

Seres humanos: Não correm risco de extinção, pois são melhores que bichos, plantas; morrem, mas ressuscitam. E, se não ressuscitam, vão pro céu... E continuam vivendo.
Somos um hospício a céu aberto, meu deus! E o hospício, o pobre coitado do hospício, é o espelho da sociedade, da nossa podridão, dos nossos proconceitos.
Pra gente não morrer de culpa tem que culpar alguém, não é mesmo?

“Pois com licença, Senhora... Mas, me permita enlouquecer de amor (à vida)?”


Por Anita Petry

quinta-feira, 20 de setembro de 2007


Não consigo me conformar com a colossal distância entre a minha home sweet home e o centro de Nova Iorque, onde TUDO acontece. (E tudo, nesse caso, não é força de expressão). Por isso, constantemente, sou tomada por impulsos desbravadores e absolutamente idiotas, que invariavelmente rendem cerca de duas horas dentro de um trem. De qualquer forma, e graças a um pequeno traço de personalidade poliana que consegui herdar de meus antepassados, consigo, sim, enxergar "lados bons" nesses perdidos pela Big Apple. Ainda que eles aconteçam depois de um dia inteiro de trabalho, à 1h da madrugada. Por exemplo: não é todo dia que se vê um mendigo todo sujo e rasgado curtindo uma musiquinha básica de seu I.pod e se atualizando com as notícias fresquinhas do New York Times... Só no trem Q, rumo ao bairro russo chamado Manhatan Beach. Foi também nesse mesmo trem que vi uma figura muito peliculiar e estilosa: um negro alto, enorme, de terno, camisa, cinto, gravata e chapéu pretos e sapatos brancos envernizados que combinavam perfeitamente com um relógio de ponteiro que não funcionava!!! Ontem, depois de horas zanzando sozinha pela cidade, cheguei a três constatações implacáveis: se mapa servisse pra alguma coisa, não teria tanta gente perdida em Nova Iorque, e nunca, jamais, saia de casa sem um i.pod e uma câmera fotográfica.
Hoje meus devaneios (com a ajuda da Anita) me levaram para Chinatown. Um bairro chinês que é, definitivamente, um matadouro para a fineza alheia... Presenciei um atropelamento... Foi triste. Entretanto, minha veia jornalística não me permitiu não fotografar... As pessoas olharam feio... Fingi que não era comigo. Um cheiro azedo na rua que parecia nos seguir, camelódromos e vitrines bizarras com patos e rãs montaram minha impressão sobre o bairro. Depois de alguns quarteirões, encontramos Little Italy. Em boa hora, diga-se. Meu estômago já estava quase do avesso...
Tarde horas marcavam no relógio e nós, muito corajosas, apostamos na sorte, e não mais nos mapas, para chegar em algum lugar legal... Saltamos na sexta avenida ... Adivinha? Bar brasileiro bombando!! hehhe
Foi divertido e ainda rendeu uma champa pra comemorar!


Por Cadija Tissiani

segunda-feira, 17 de setembro de 2007


De algum lugar do mundo, com amor e verdade, 17 de Setembro, 2007
Querida Anita, menina,
De onde vem esse medo?

Cada um, em cada lugar, em cada situacao.
Ainda assim, a vida que ha num jardim parado, colorido de verdes sem brisa, eh a mesma vida que palpita num coracao menino, mergulhado num amor desenfreado. No Times Square ou na Praca Tiradentes, independente da ansiedade que te poe a tragar assim, um seguido do outro, ou da tristeza que faz a vizinha se descabelar em choros raivosos, apaixonados, a vida eh a mesma em tudo que vive. E ela nao eh mais viva em Nova Iorque, embora aparente ser assim tao mais dura.

Ansiedade é normal... Mas não desconta na comida, nem no cigarro. Logo voce que fumava tão pouco.

Tomar decisoes que tratam de botar o pingos nos 'is' eh bom e tenho certeza que devem deixa-la mais segura. Mas isso também não pode ser pré-requisito para a felicidade, nao eh mesmo?!

Que bom que vc mandou energias positivas! Eu sei que me ajudaram. Aliás, sabe aquele dia em que as coisas parecem não funcionar de jeito nenhum e, de repente, surge uma ajuda caída dos céus que te salva? Então, hoje foi assim. Talvez tenha sido um anjo que te ouviu e resolveu me ajudar.

Tenho falado muito de ti por aqui. Tenho sentido muitas saudades...
Estranho, pois nunca imaginei que precisasse de voce pra nada. Nao se ofenda com o que digo; eh uma grande verdade. E isso nao quer dizer que nao me tenhas feito feliz, quer dizer apenas o que diz. Lembre-se: Nada eh nem um atomo maior do que eh.

Diga pra Cadija que ela eh linda! E que bom que voce divide nossas aventuras com os outros. Teu jeito de contar, todo ele, as palavras que escolhe, as caras e bocas, isso tudo me alegra e acabado vendo mais cor no que vivi.

Ontem acendi uma vela pra você. Estou na torcida pra que conquistes logo essa Grande Maça! Os Correios estavam em greve, voce sabe, mas agora prometo escrever mais.

Beijo em mim, pois tudo que sou eh o que es e tudo que digo esta em algum lugar dentro de ti mesma.


Por Anita Petry (com trechos de belas cartas que nao sao nada virtuais)

sexta-feira, 14 de setembro de 2007




Eu nunca pulei de pára-quedas, mas acredito já ter vivido algumas vezes, — inclusive agora —, a sensação que antecede o salto. E sempre com a mesma intensidade. Lá em cima, a quilômetros de distância da terra firme, o vento que entra forte pela porta do avião meio aberta congela por dentro e faz suar por fora. Amarra um nó na garganta e arrepia até o último pêlo do corpo. Você hesita olhar para baixo. Uma desistência, a essa altura do campeonato, teria um efeito devastador sobre a auto-estima. No fundo, bem lá no fundo, você sabe que a experiência vai ser alucinante, incrível, única, eu diria. Sabe também que vai chegar lá embaixo uma nova pessoa. Mais confiante, independente, interessante até. Mas o medo de se espatifar paralisa. E você fica ali, estático, taquicárdico, na expectativa de que um ataque fulminante de coragem o faça saltar.... E só falta saltar... E eis que a adrenalina cumpre o seu papel. Partiu. Até lá embaixo.
Amyr Klink escreveu: "Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser. Que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos e, simplesmente, ir ver".
Eu vou lá ver. Espero ter boas histórias na volta.
Por Cadija Tissiani

Ani e Cai, sim, vivendo enlouquecidas!
Como foi que isso aconteceu? Sabe-se lá!
Pois é, estamos aqui, tentando conquistar alguma coisa... talvez um emprego como garconete em New York City... hahahah.... Ironia do destino? Nosso sonho!