domingo, 25 de novembro de 2007

O Direito a Desconectar-se

A gente muda.
Eu que nunca chorei na frente de ninguém, hoje não vi graça em chorar sozinha.
Era como se as lágrimas não conseguissem mais purgar a dor.
Elas saíam a rodo, como se costuma dizer, saíam e as mãos continuavam tremendo, o coração, sempre, desembestado, ansioso demais, sedento, infantil.
E eu empalidecia ao ver, bem aqui, diante de mim, o retrato do meu medo, a verdade que escondo de mim mesma, malandra, o sofrimento que eu não deixei atracar no meu cais. Eu, forte demais.

Veja a minha poesia, a minha devocao toda, por favor.
A tecnologia não desconecta mais as coisas?!
Eu quero me desconectar!!!

A centenas de quilômetros de distancia, é covardia do acaso me fazer enfrentar um mundo inteiro de “nunca mais.” É covardia do acaso jogar assim na minha cara o amor que eu pensei ter enterrado. Ele apenas dormia, distante de mim. E, é verdade, meu bem domina o universo das conexões e faz seu mundo chegar ao meu, risonho, saudoso, alegre. A mesma alegria que tanto me podou, me diminuiu, me recolheu. Agora eu aqui, mais uma vez, amedrontada, trêmula, insegura como havia jurado não me permitir mais. É covardia do acaso me fazer falhar mais uma vez. É covardia do acaso invadir uma luta por findar pra berrar na minha cara que a estratégia é inútil, que é derrota sabida.

Eu amadureci. Mas amadureci pra ser amada. Pra viver de novo tudo que já passamos e poder corrigir as cagadas todas, entende? Mas o que passou não volta, e o meu aprendizado nunca vai mudar nada.

(desespero de ter perdido aquele amor novo que fostes um dia)

Tudo o que está por vir, ainda não veio. Não amadureci o suficiente, tão longe disso, pra encarar as velhas promessas, pra enfrentar a minha dor enferrujada, tirá-la do fundo do armário.

A gente não tem que aprender a lidar com tudo e se eu coloquei essa merda dessa frustração pra dentro da gaveta é porque não queria mais vê-la!!!!

Como assim? Pra onde foi a minha plenitude?? Porra, jogava conversa fora com ela há míseros minutos!! Não se esconde de mim, não... O acaso me paga.
A sincronicidade da vida, que responsabilizavas por tudo que é belo e inesperado, há de me pagar.

O pranto tão cantado da dor do amor molha o meu colo enquanto discorro por essas palavras. São minhas, me fincam, me são parte. Agora meu texto existe, está aqui diante de mim.

É um alívio enorme ter companhia.


Por Anita Petry

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Tic-tac-tic-tac...



Seis e vinte da tarde. Acabei de entrar em sala de aula e me acomodar na cadeira. A sensação de sentir meus músculos descontraírem um a um é quase orgásmica. É a primeira vez que me sento ao longo do dia... Passei as últimas seis horas ou mais ziguezagueando entre as cinquenta mesas do restaurante em que trabalho. Distribuindo sorrisos amarelos e esbanjando simpatia para quem nunca aprendeu a ser simpático (Pela simples razão de não precisar ser). Me esquivo de fazer qualquer esforço para entender a conversa que se desenrola a minha frente. Quero aproveitar esse momento. Sentir meu corpo relaxar e esquentar. Assistir meus dedos ganharem cor novamente... Sim, esfriou por aqui.Termômetros já marcam 32 graus Fahrenheit. O que isso significa? Experimente passar alguns minutos dentro de um congelador... Celsiusamente falando, zero grau. Nada mais, mas, muito provavelmente, menos. Questão de dias.
A chegada o inverno anunciada pelo Halloween reflete no astral das pessoas. No meu, principalmente. Me abstenho de fazer qualquer associação à data. Confesso não ser mística o suficiente para creditar uma sucessão de acontecimentos infelizes ao dia das bruxas. Mas não tenho como negar uma estranha coincidência. Será que deveria ter dado doces para aquelas crianças gordinhas de bochechas rosas que bateram na minha porta no último dia 31? Diz-se por aqui que o infeliz que não corresponde ao tal do trunk-or-treat está condenado à um ano sombrio e será atormentado por mortos-vivos nos próximos 12 meses. Sim, presentear as pequenas bruxas e franksteins com guloseimas variadas é a garantia de que sua alma será salva. E eu que pensei que não contribuir para a obesidade precoce dos americaninhos seria um bom negócio nessa história de pecados. Whatever. O fato é que simultaneamente aos ventos cortantes, uma crise familiar, uma intoxicação alimentar, quinhentos dólares debitados e não sacados e uma TPM sem precedentes tiraram a minha paz(ou algo parecido) nessa vida que palpita no meio da maior confusão da oitava avenida. Com todo o drama que me é peculiar, mergulhei num mar de questionamentos. E acuada pela opinião alheia, me tranquei em meu cubículo com vista para os fundos de um restaurante mexicano. Que sorte a minha. O dono deixou uma única árvore, já quase sem folhas, para me conectar, ainda de maneira imprópria, à energia da natureza. O sol não me alcança dali. Mas posso perceber sua coadjuvante presença nesses dias frios, quando me esforço para enxergar a copa do meu amigo eucalipto. Tenho coisas a fazer. Várias delas. Escrever e.mails, estudar, procurar um emprego mais excitante... Tenho que ligar para alguém? Provavelmente. Em vez disso, fico sonhando com as possibilidades. Taí. Virei prisioneira de tantas possibilidades. Ter muitos caminhos a escolher me paralisa. Essa imersão em meus pensamentos me atormentam. Olho ao meu redor. O tempo não passa. Um café. Café ajuda a passar o tempo. Outro ensinamento dos tempos corridos de redação.
Minha barriga roncou. Acabo de me lembrar que não coloquei nada no estômago além de diferentes sabores e variações de café...
“Do you have any questions?” Uma voz longínqua me força a aterrisar.
“None. This has been hopeful. Thank you”, respondi de sopetão.
Voltei. Oito e quarenta da noite. Acabou a aula. Preciso comer alguma coisa.

Cadija Tissiani

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Desculpe-me pela paz.


Minha intencao nao eh, de forma alguma, fazer com que ela te invada.

Nao quero fazer essa paz te invadir. E, meu amor, eu juro que nao permitirei que ela me salte aos olhos, tentando enfrentar o teu caos. Juro que deixarei essa paz imensa, quase que imperceptivel, adormecida dentro de mim.

Nao permitirei que ilumine o meu sorriso, tampouco adoce meus beijos, que sao teus.

Essa paz maldita que teima em abrandar a minha dor, que teima em me por a voar, nao sera afronta ao teu pesar, nao sera indecencia, muito menos arrogancia diante de ti.

Mas deixe-me ficar com ela.

Eu lhe imploro, meu amor, que nao tires essa paz de dentro de mim.
Se assim permitires, prometo ate me esquecer da existencia de tal imensidao.

Prometo pessear pelas ruas, descer as ladeiras da nossa cidade, tao nossa, como uma pessoa ordinaria, qualquer. Terei absolutamente nada de especial no olhar, no gestual, nada que seja evidencia dessa paz.

Meu jeito menino de tentar ser feliz fez nascer essa calmaria dentro de mim. E isso nao quer dizer que nao lutes por nos. Nao por conservares tanta confusao.

Cada um segue um caminho. Os nossos se desenrolam lado a lado, eu sei, meu amor, mas nao pisamos na mesma trilha. E a vida ensinou que nos nao temos que pisar.

Eu arranco os cabelos, grito, imploro, vivo em meio ao caos pra nao tirares essa paz de dentro de mim. Se estiveres ao meu lado, digo e repito, vivo em meio ao caos. Mas preciso desse afago, da plenitude que essa paz eh em mim.

A verdade que doi, e que ja eh pontada em meu peito, eh a certeza que eu carrego de que mesmo precisando dessa paz pra ser plena, preciso de voce pra respirar.
Te imploro aqui que aceites essa paz, porque se nao aceitares, meu amor, minha vida, ela me deixara. Assim, sem mais nem menos, sem se despedir, sem me deixar falar, sem ouvir meu soluco, sem entender meu medo. Me deixara porque, contra tudo que sei, eu vou permitir.

O caos do teu olhar vai invadir meu coracao por completo. E a vida seguira.


Por Anita Petry