sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Sobre esse tipo de pessoa ...


Humm...
“Meu pai é desse tipo de pessoa”, escutei por aqui. “Ela é mesmo o tipo de pessoa que faria isso”, ouvi dali. Já perdi inclusive as contas de quantas vezes fui agraciada com tão grande e igualmente inexpressivo adjetivo. Também não me “incluo fora dessa”, não. Muitas vezes me flagrei desejando não ser “esse tipo de pessoa” ou simplesmente denominando um determinado tipo de pessoa de determinado tipo de pessoa.
Pois bem. Sim, eu sou desse tipo de pessoa. Insegura, contraditória, intensa, mutante. Boa na essência. Má na efevercência. Desejo o bem, mas minha consciência não me permite afirmar que nunca desejei o mal. Choro de me arrebentar, rio até me acabar. Quero ir, mas também quero ficar. Tenho medo de começar por não saber como vai acabar. Ou de acabar, por não saber o que começar...
Sim, eu sou esses, e quantos mais existirem, tipos de pessoa. E isso não me faz melhor, nem pior. Mas me torna exatamente igual a você. Minha qualidade mutante me joga para o mesmo saco de farinha da espécie humana.
Ihh... Será que me bateu um bipolar?
Sim, eu também sou desse tipo de pessoa.


Por Cadija Tissiani

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Às Cegas - Exercício Literário


O texto é dadaísta, mas até fez um certo sentido... nesse momento, encontramos, ou pelo menos buscamos, resposta para toda e qualquer indagação. Resultado de uma tarde à toa com cerveja amarga e coração apressado. Ou seria apertado?

“Naquela época seus pais provocaram nela um transtorno emocional que deixou cicatrizes difíceis de apagar”. Será essa a nossa sina? No. I hate that.
Por mais que te doa ouvir isso, a minha vontade é de me abster. Não diga nada. Quero ouvir o silêncio. “Deixe que o beijo dure. Deixe que o tempo cure”.
Mulherãozice. Coisa de mulher madura. Coisas de mulher que conhece os homens.
Amo nossas histórias. Ao mesmo tempo, as odeio do fundo da alma. Me libertam e me aprisionam. Desassossegado, Fernando Pessoa escreveu: Quanto mais as preparava, mais inacabadas ficavam. Inacabadas e inacabáveis.
Qualquer semelhança com a vida real é mera coincidência.
Eu queria era ser tudo aquilo que não consigo. E os letreiros me engolem. O trem me carrega, e a presença dos turistas aflora a minha solidão.
Solidão, que de tão imensa vira doença. Mas, não. Não tenha medo de enfermar-se. Ela também passará, quando encontrardes a ti mesmo.
É claro que vai dar tudo certo. Algo muito superior olha por nós. E a canoa pequena, artesanal já atravessou o oceano. Sim, foi como uma bala de revolver cruzando a nossa cidade, como você atravessando a minha vida.

Por Anita Petry e Cadija Tissiani

terça-feira, 9 de outubro de 2007

..CartA PostadA..


Amigo de Brasília,

Nossa, meu amigo! Quantos amores você tem vivido! A vida aqui anda corrida, agitada, doída até. E paixões não têm tido muito espaço.
Por vezes, me lembro das histórias malucas pelas quais essa Brasília de cores me viu passar. E tenho saudades.
Saudades do pânico adolescente, de quando a gente tem cer-te-za que vai morrer de amor.
Hoje em dia, sabendo que disso não morro mais, deixo aquela dor fininha que dá no peito ir e vir como bem entende. Ela manda na gente.
A tranqüilidade me faz diferente.
Encaro essa cidade com um desespero desenfreado que, de repente, me surpreende por conter em si uma maturidade incrível, que me acalma e afaga o ego.
Somos competentes.
Digo e repito: essa cidade estranha aqui, que carrega o mundo todo numa esquina, não me engole.

A saudade que tem me atormentado é da cidade daí. Que é a saudade de casa, dos amigos, de histórias. Brasília tem uma poesia, que é diferente da magia tropical do Rio, que enlouquece forasteiros e os toma o coração por completo, ou da loucura de Sampa, que tenta enganar a gente chegando na hora e abrindo poupanças.
Ainda nova e já tão cantada. Brasília menina.
A saudade que tenho desse planalto vermelho é saudade da minha vida de patins e pôr-do-sol, de teatro, conic, rock'n roll.
Minha vida de copos e kibes (tantos!), de Arleudos, Cíceros, Feitosas...

E agora aqui, sob o calor infernal que os arranha-céus trancam na cidade, a circulação do capital que nos assusta com sua atroz velocidade, e a batalha diária que se trava em torno dele, curioso é o meu andar por entre suas ruas e avenidas. Já desço a cidade a pé como que me adonando de suas luzes, de seus ares. Nuevos Aires.

E minha latino-americanice, minha saudade toda, latina, exagerada, cheia de si, fica guardada nas coisas que eu vivi.
Assim como um dia tanta gente desembarcou nessa cidade menina (onde eu, menina, também cresci), há pouco parti, sozinha. Preciso crescer longe dela, longe do aconchego de seus números e de sua solidão. Sim, essa solidão burguesa que a gente dribla num piscar de olhos, você sabe.
Ela me ensinou lições que tenho posto a prova, sem falsa modéstia, por vezes, de forma brasileira magistral.

Não, não tenho novidades. Ainda tô fodida, lascada e sem dinheiro, mas as boas intuições me deixam serena e feliz.

Aguardo ansiosa as tuas palavras, que sei lá como as escolhe debaixo desse céu de nuvens raras e de tanta poesia.

Beijos,
Sua amiga de Nova York.

Por Anita Petry

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Nós, os palhaços


A Anita veio toda orgulhosa me mostrar o texto, muito bem escrito por sinal, em que sua irmã mais nova é citada como uma das grandes promessas para o teatro brasileiro. Bah! E não é que a guriazinha, do alto de seus 13 anos, colocou o nariz de palhaço, subiu no picadeiro, encarou, com a segurança que nem os mais experientes desfilam, uma plateia de sei lá quantos e arrancou sorrisos e gargalhadas até dos mais avessos à palhaçada. Não conheço a corajosa Nina, mas me orgulhei de seu potencial revelado e reconhecido.

Enfim... o fato é que lendo sobre a arte do palhaço, e sobre o quão difícil, por mais contraditório que isso possa parecer, é fazer pessoas sorrirem, encontrei uma espécie de lição que serve pra todo mundo. Porque no fundo, bem lá no fundo, somos todos um bando de palhaços tentando nos desviar dos tomates nesse enorme picadeiro. E, sim, agoniza um frio na barriga só de pensar que alguém pode querer mirar um tomatão em você. E mais ainda que o tomate, as latas de cerveja, as cascas de banana podem te acertar e até te derrubar. E aterroriza pensar que você vai ter que levantar e encarar toda a platéia de novo. ‘Eles vão achar que eu sou um palhaço’, você sua frio e pensa cheio de orgulho. E depois congela. Mas, peraí, não é exatamente essa a proposta?A queda é parte do jogo, minha gente. Do palhaço em cima de palco, e dos palhaços embaixo dele. A questão é a importância que você dá a ela e isso pode determinar inclusive o nível do seu desenvolvimento. Ou seja, assim como é impossível um palhaço ensaiar e não se apresentar, não podemos nós treinar e não jogar, não se arriscar, não cair. Afinal, é mais digno perder lutando do que nem tentar. E uma vez que a adrenalina cumpre o seu papel, todo o resto entra no ritmo.

“No início, o corpo é duro, débil, o pensamento não se conecta com o corpo e você só apanha, cai, fica imobilizado, sem reação. E assim você caminha, até que, com o tempo, seu corpo vai adquirindo um certo molejo, esperteza, e, aos poucos, aumenta a capacidade de improvisar dentro daquele repertório de movimentos, de surpreender. O aluno aprende a jogar jogando e, conseqüentemente, aprende a cair”, dizia o texto.

Too much???



Por Cadija Tissiani

segunda-feira, 1 de outubro de 2007


NYC 27/09/2007 (bêbada de tarde)

Peço desculpas se lhe dói ouvir isso. Mas a tua felicidade é uma afronta a minha dor.
Sim, claro! Faço tanta questão de viver. E essa felicidade superficial, quase cinematográfica, a vida linda e indolor, me tira do bom-humor raro com o qual me acordei essa manhã.
Reviro minhas dúvidas, escancaro minhas gavetas, coço minhas feridas. Mas sofrer é coisa de fracos, eu já sei!
É porque nos ensinam errado.
É porque só o viciado consegue largar as drogas. É só embriagado que choras dores empedradas. É só num insight, que é quase um transe, que algo é criado, que a arte toma vida. Toda grande criação vem depois do caos e se não há caos, sinto muito, meu bem, na tua vida litoranea não há grandeza, novidade. Nessa vida não há lição.

Um dia, falando de meu pai, minha mãe contou que durante a separação fez coisas que nunca se imaginou capaz de fazer. Ela disse que misturava whisky até no café e eu, boba, pequena, me assustei com aquilo, me decepcionei. Imaginá-la dentro do closet, chorando e tomando whisky, representava uma perda tão grande, uma dor tão vergonhosa da qual nem eu escapava. Aquilo parecia doer em mim.
Mas aquilo o quê? A purgação da dor? A válvula de escape que ela encontrara?
Eu estava errada. Era pequena. Me foi necessário tão menos do que um casamento de vinte anos pra ir muito além disso...
A idéia da força é uma merda de um conceito que a gente aprende. E ninguém tem que querer ser forte.
A vida é feita de perdas. E dores. Isso é o mais difícil de aprender.
É lindo dizer que errar é humano, ou que errar é viver. O difícil é realmente entender isso.

E, acredite, viver dói, amar dói. A novela não dói e quanto mais o nosso amor se parece com o cinema, mais medíocre ele é.
A vida é feita pra doer. E enfrentar essa dor toda (senti-la de verdade) é que é lindo. Muito mais lindo do que ser feliz e pleno sem nunca ter se virado do avesso pra escapar da insanidade.

Rainer Maria Rilke escreveu: “Que seria, com efeito, uma solidão que não tivesse grandeza?[...] Quase todos, em certas horas, gostariam de trocá-la por uma comunhão qualquer, por mais barata e banal que fosse; por uma aparência de acordo insignificante com quem quer que seja. Seu crescimento é doloroso como o de um menino, e triste como o começo das primaveras. Mas tudo isso não o deve desorientar. O que se torna preciso é, no entanto, isto: solidão, uma grande solidão interior. Entrar em si mesmo, não encontrar ninguém durante horas – eis o que se deve saber alcançar... Essa sua solidão há de dar-lhe, mesmo entre condições muito hostis, amparo e lar .”

Esse aprendizado é infinitamente lindo. Lindo do tamanho do mar.


Por Anita Petry