(Esse texto foi escrito e engavetado, mas hoje senti que se ele não tivesse nascido há alguns meses, nasceria essa manhã.)
Sinto-me no direito de ficar indignada.
Sei que meus medos, meu silêncio arredio, minha dissimulação ensaiada, até essa minha insegurança estranha, doída, já causaram dor e ainda hão de causar.
Mas não falto com respeito, não traio lealdade, cumplicidade.
Sei ser companheira.
Se minhas frustrações, quando se deparam com a vida, machucam e fazem doer, não estou à parte dessa dor. Ela é minha as well, acredites. Não acho também que isso justifique o fato de fazer mal a quem está a minha volta sem, um dia, parar pra entender as coisas e realmente mudá-las.
O que andou me cutucando hoje foi uma consciência leve (até leve demais pro meu histórico sórdido), uma sensação muito boa de ter cuidado de quem é querido por mim, de quem me quer bem em troca.
Quando assim, te prepares, uma sensação de direito a indignar-se comeca a aparecer. Sim, sensação de “estou legitimamente autorizada a reclamar!”
Não sei bem de onde ela vem. Mas existe.
E não é boa coisa quando a gente percebe que foi o outro quem sujou a roupa. Ela não deixa de estar, como já estava há tempos, suja.
Quem me lembrou disso hoje foi a Cacá (que seria de mim sem as amigas-irmãs?), com uma frase que só amiga de tantas poderia dizer. E ela tem propriedade: "Eu sei que é foda essa coisa de decepção, quando gostamos de uma pessoa e ela trata a gente assim desse jeito... E você, entao? Nunca vi falando ou fazendo algo grosseiro assim com ninguém. Acho muito injusto. Você é sempre meiga, pra cima, carinhosa com as pessoas".
Como é bom ter alguém pra fazer a gente lembrar dos próprios atos.
Sim, a gente faz coisas boas que às vezes acaba esquecendo.
E essa minha calmaria tem dias contados.
Não, não vou sair por aí virando mesa de bar. Continuo sendo quem a vida me fez.
Agora, se for pra fazer justiça à minha pessoa, comprarei quantas brigas forem necessárias.
Cantar as mágoas todas pra longe pra evitar cara feia, discórdia, confusão, ainda é parte de mim. Mas guardar mágoa eu não guardo mais não. Faz a gente ficar feia.
Tenho gostado tanto de mim. Do meu jeito de amar os amigos, a música, o texto.
Da visceralidade de minha saudade pelos pequenos. Do meu jeito de querer ficar linda e acabar esquecendo de passar a maquiagem (putz!). Do meu jeito de querer saber tudo, ser grande atriz, orgulhar pai e mãe, ler toda a obra de Shakespeare!, e sempre terminar só filosofando mesmo, sentada no boteco.
Tenho gostado muito do meu jeito de esquecer as coisas ruins e guardar lembranças boas de tudo e todo mundo.
Sim, esse alguém que despertou o direito à indignação está desculpado, é claro, apesar de não ter nem pedido desculpas!
Eu preciso ir trabalhar.
Por Anita Petry
quarta-feira, 16 de janeiro de 2008
quinta-feira, 10 de janeiro de 2008
"Teatro é ao vivo. Olho no olho, respirando o mesmo ar, sob a mesma temperatura, tendo vivido o mesmo dia na mesma cidade, ator e espectador estabelecem uma relação -real, simbólica, física, esotérica, intelectual, sexual -irrecuperável, irreversível e irreproduzível. Essa é sua força e sua maldição.
É a mais cruel da artes. Acontece ou não a cada apresentação. Em teatro não há segunda chance, bula nem perdão garantido pelas boas intenções. Vale o vivido. Ou não vale nada. Não dá pra deixar na estante e tentar ler depois de uns anos. Não dá pra ver de novo numa sessão da tarde e só então se emocionar. Não dá pra esbarrar com a obra num museu e viver uma epifania."
Aimar Labaki
"Nosso ritual diário de comunhão com o público ainda vai ser percebido como ouro, uma coisa rara e um luxo, pois o nosso teatro é apontado para o futuro, com ambição de que a arte, como o futebol, seja o esporte das multidões."
Zé Celso
O teatro, essa arte estranha e cruel, tomou conta mais uma vez de minha vida. Ou ao menos de meus dias.
Um brinde!
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