terça-feira, 25 de dezembro de 2007
...
"Acendeu um cigarro e fumou apenas a metade; o vento encarregou-se de fumar o resto."
E eu tenho mesmo que gostar dessa cara porque ela é a minha cara?
Já ouvi que esse nariz, várias vezes até, sou eu. É, então, talvez, o retrato de minhas vivências: a poesia feia de meus amores imperfeitos.
Lestes tanto e tão pouco sabes, meu bem.
O cheiro de cigarro agarrava-se a seus dedos. E esse cheiro também era ela. Esse cheiro que invade suas narinas redondas, seu nariz largo demais (sem nunca deixar-lhe os dedos).
Sou artista, estrela de minha criação, "uma forma nebulosa feita de luz e sombra" que toma posse do sujo e do belo, que molda e mata. Sou qualquer coisa então no intermédio meu e do outro.
Está ela começando a gostar de suas mãos, dos dedos tortos que herdou da família Cavalheiro e das unhas vermelhas que ela mesma pintou; unhas vermelhas que são como que o transbordar de sua vaidade.
E vejo que tudo que é torto e estranho sou eu também. E gosto de mim mesma quando gosto do frio, quando meu cigarro deixa de ser um prazer fútil e passa a ser, na verdade, um ritual de minha solidão. Um ritual bom.
Ela gosta de si mesma quando objeto de sua própria reflexão.
E lhe dá imenso prazer a verdade de seus sentimentos, ao menos consigo mesma, e bem no fundo de si.
Sua dissimulação, em momentos de bem estar, é quase a prova de sua pureza.
Labirinto da paixão. Ingênua, deixa-se perder.
E joga, afobada, palavras no papel, como se essas, de alguma maneira, tirassem algo de si.
Por favor, leia as cartas que te escrevo.
Elas estão como que a flutuar em torno de nós, em torno da nossa história (história à qual ela se agarrava como que a provar razão pra tamanha loucura).
Minha dissimulação é o medo que tenho de enviá-las; mas aí elas estão, no meu nariz redondo (que é como o prenúncio de meu despeito), no cigarro (que fuma como que a mergulhar no outro de si), dedos tortos de unhas vermelhas (que são como força a saltar-lhe das extremidades).
Por Anita Petry
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3 comentários:
Ui! Que linda!
Adoro suas unhas vermelhas - que você mesma pinta! E odeio quando você nao envia as cartas que escreve! hehehe
Beijos
Eu nunca pensei que alternar primeira e terceira pessoas dessem num diálogo desse jeito... Wow!
Feliz 2008, volta logo pra gente quebrar essa cidade todinha!
BEIJO!
:D
Mulher, como foi teu ano novo? Fizeste falta aqui em casa, porra!
:D
voltaaaaaaaaaaaaa
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