sexta-feira, 19 de dezembro de 2008
Taking off! :o)
Brasil, Brasil...
Não é um só, é tantos!
Ai, que saudade da minha terra, literalmente do meu chão, de onde descanso meus pés, meu corpo, alma, cabeça.
A mala vazia ao lado. Na ansiedade de ir embora, eu keep on evitando o momento de packing... por quê?
A gente evita confrontos tão bobos... eu, heim?
"Levanta, mulher, faz a mala e se manda!
Corre pro braços de quem te conhece!"
É, eu vou correr pros braços teus, pros braços da língua.
("Minha pátria é minha língua!" Me lembrei disso agora.)
A antecipação da partida é deliciosa:
O avião na minha frente, a bagagem de mão, maior do que deveria, pesa e ainda assim me sinto como que pairando no ar.
Coração, lógico, respirando afobado, aos pulos.
Fui!
Anita Petry
quarta-feira, 10 de dezembro de 2008
palavras saídas da cabeça de alguém.
Chegando ao caixa, na saída da livraria, a mulher, enxerida simpática, disse: "Você tem uma cara boa... Cara de escritor!"
Ele respondeu: "Eu sou escritor."
Mas não era. Era apenas um leitor assíduo de coisas estranhas, de peças teatrais. Mas também não era ator, nem diretor.
Era só amante das artes, das criações humanas. Mas também não era antropólogo.
Tinha uma amiga antropóloga, pensara, já se questionando a respeito da linha de pensamento incomum que seguia.
"Calma, ela só perguntou se você era escritor!"
Ah, ele falava sozinho. Tinha longas e profundas conversas com si mesmo, os muitos de si.
Mas também não era louco!
Acho na verdade que ele não era ninguém. Amava as coisas, muitas, palpáveis ou não.
"Complicada essa história de ter que ser alguma coisa específica..." continuou.
terça-feira, 9 de dezembro de 2008
Era uma vez Ela.
Ela questionava tudo. Seria aquela, em qualquer tempo, a sua cidade?
Nova Iorque não assusta, acolhe. Ou pelo menos, parecia acolhedora às pupilas brasileiras poéticas dela.
O que a assustava era a grandeza de tudo. O mundo é muito grande e Nova Iorque é uma janela imensa, bem de frente pra ele. Aberta. Escancarada às suas ventanias.
Quando ela chegou aconteceu um clique. A proximidade com o que é mundial, global, era perturbadora, era sensorial. Ela sentia, num suspiro profundo, a grandeza daquela cidade entrando pelas narinas, invadindo o peito, esfriando o estômago, acordando o olhar, estremecendo as mãos.
E gostava. Os prazeres que meticulosamente cultivava eram cada vez mais peculiares, cuidadosamente analisados, cada vez mais medidos, compreendidos, verdadeiramente sentidos.
E como podiam questões tão óbvias a perturbarem tanto?
Era a vontade de crescer, e ela era ansiosa, até os amigos comentavam!
Alho. Frango. Pimenta do reino. Cuzcuz. Tomate. Cenoura. Cebola. Uma taça de vinho branco.
Mal podia esperar pra ter sua própria cozinha.
Almofadas coloridas. Edredom branco. Incenso queimando devagar. Um casaco bonito pendurado no cabideiro. Um par de sapatos que ela esqueceu de guardar.
No banheiro, sabonete líquido, com certeza. Hidratante. Perfume. Banho.
Ele.
.
.
.
.
.
.
Ela, a menina, sonhava o dia inteiro com a mulher na qual,
sem sequer dar-se conta,
já havia se tornado.
Anita Petry
domingo, 7 de dezembro de 2008
Domingo.
Tá, agora eu vou escrever.
Tem que ser assim; se a vontade de escrever não vem, a gente se senta em frente ao computador, respira fundo e bota os dedos pra trabalhar.
E se eu não escrevo é porque pra isso há também um motivo. Ok, como pessoa sã que sou, lidarei com esse motivo, mesmo que aparentemente o desconheça.
Sonhei muito essa noite. Tive saudades do ex-namorado (como isso assombra!), ansiedade de ir ao Brasil, lembrei muito da Eta (com todo o amor que sempre me lembro), mas não me lembro dos sonhos especificamente.
Ontem à noite nevou. Conheci um rapaz que caminhou comigo até a estação de trem. Ele tinha sentado ao meu lado durante a peça e a gente bateu um papo. Acho que ele gostou de mim.
Me convidou pra assistir a um espetáculo da Pina Bausch e dei meu telefone pra ele. Bamboo Blues. Eu já estava louca pra ver.
Agora trabalho, saio do meu Brasilzinho (o meu quarto), paro de ouvir Olodum, e vou pra uma casa de algum milionário em Manhattan (Upper East Side) pra animar a festa da filha.
Pesquisa antropológica que me rende uns trocados.
Bom, morar em Nova Iorque já é, por si só, uma pesquisa constante.
Agora já não neva mais.
E não sei o que eu queria.
Onde você foi ontem à noite?
Tanta gente me ligou.
Você não vai chorar?
Ele se lembrava tanto dela...
Vamos pra piscina?
Eu não tenho um Ipod e sinto que isso é a minha maneira de fazer a música, e os momentos que decido passar em sua
companhia, sagrados.
Do you still have my picture?
What did you do to my picture?
Ela não era verdadeira. Nunca. Sempre dissimulava, em palavras estrangeiras, qualquer bobagem que não lhe era prazerosa.
A gente sempre quer se mostrar bem pros outros e a foto casual acima só está ali porque me achei bonita nela mesmo e queria que os outros pensassem o mesmo que estou bonita ou pensassem que eu sou bonita sempre e não só nessa foto queria que pensassem que eu escolhi essa foto sem muito pensar ou porque eu gosto da cor da luz do fato de estar de calcinha e não parecer vulgar do fato de ser um auto-retrato enquanto é só vaidade vaidade que todo mundo tem mas que cada um mostra ou lida de um jeito...
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