terça-feira, 9 de outubro de 2007

..CartA PostadA..


Amigo de Brasília,

Nossa, meu amigo! Quantos amores você tem vivido! A vida aqui anda corrida, agitada, doída até. E paixões não têm tido muito espaço.
Por vezes, me lembro das histórias malucas pelas quais essa Brasília de cores me viu passar. E tenho saudades.
Saudades do pânico adolescente, de quando a gente tem cer-te-za que vai morrer de amor.
Hoje em dia, sabendo que disso não morro mais, deixo aquela dor fininha que dá no peito ir e vir como bem entende. Ela manda na gente.
A tranqüilidade me faz diferente.
Encaro essa cidade com um desespero desenfreado que, de repente, me surpreende por conter em si uma maturidade incrível, que me acalma e afaga o ego.
Somos competentes.
Digo e repito: essa cidade estranha aqui, que carrega o mundo todo numa esquina, não me engole.

A saudade que tem me atormentado é da cidade daí. Que é a saudade de casa, dos amigos, de histórias. Brasília tem uma poesia, que é diferente da magia tropical do Rio, que enlouquece forasteiros e os toma o coração por completo, ou da loucura de Sampa, que tenta enganar a gente chegando na hora e abrindo poupanças.
Ainda nova e já tão cantada. Brasília menina.
A saudade que tenho desse planalto vermelho é saudade da minha vida de patins e pôr-do-sol, de teatro, conic, rock'n roll.
Minha vida de copos e kibes (tantos!), de Arleudos, Cíceros, Feitosas...

E agora aqui, sob o calor infernal que os arranha-céus trancam na cidade, a circulação do capital que nos assusta com sua atroz velocidade, e a batalha diária que se trava em torno dele, curioso é o meu andar por entre suas ruas e avenidas. Já desço a cidade a pé como que me adonando de suas luzes, de seus ares. Nuevos Aires.

E minha latino-americanice, minha saudade toda, latina, exagerada, cheia de si, fica guardada nas coisas que eu vivi.
Assim como um dia tanta gente desembarcou nessa cidade menina (onde eu, menina, também cresci), há pouco parti, sozinha. Preciso crescer longe dela, longe do aconchego de seus números e de sua solidão. Sim, essa solidão burguesa que a gente dribla num piscar de olhos, você sabe.
Ela me ensinou lições que tenho posto a prova, sem falsa modéstia, por vezes, de forma brasileira magistral.

Não, não tenho novidades. Ainda tô fodida, lascada e sem dinheiro, mas as boas intuições me deixam serena e feliz.

Aguardo ansiosa as tuas palavras, que sei lá como as escolhe debaixo desse céu de nuvens raras e de tanta poesia.

Beijos,
Sua amiga de Nova York.

Por Anita Petry

6 comentários:

Anita disse...

Esse veio por e-mail:

Anita,
Você fala tanto de amores, paixões... Seu coração
vive apressado, minha filha. Mas folgo em saber
que as intuições te deixam serena.
Quase pensei que você terminaria sem falar no céu
de Brasília. Salvo pelo gongo.

Um beijo, te amo, Pai

. disse...

Eu que já fui e já voltei desse concretão que se dispõe debaixo desse céu que sempre foi esse céu, ainda assim, agora de novo, fico com o pequeno coração na mão em deixar pra trás essa dura poesia que é nossa eterna brasila.

Sair de casa não é fácil, e eu estava me enganando - até ler seu post. Esse texto que me fez lembrar maravilhosamente bem do amor sem fim a uma cidade.

Da segurança e maturidade da intuição tranquilizadora, espero me lembrar aí, do teu lado.

Te amo!

Antônio Padilha disse...

Puxa, Anita, ao menos aí em Nova Iorque você entende o que as pessoas gritam na rua. Aqui as pessoas não gritam. E, quando sussurram, não consigo nem discernir as sílabas! =P

E ao menos temos Brasília! Viva intuição tranquilizadora!

Beijo, Antônio

PS: acabei de sentir meu segundo terremoto!! Agora mesmo!! =)

Unknown disse...

Aí Anita linda,
Adoro a forma como você inscreve, me inspira, sempre...

É bom saber que no meio desse tubilhão de coisas que insistem em acontecer, você tem uma cidade maravilhosa, que não é o Rio de Janeiro, para pensar e talvez até suspirar pensando no céu de Brasilia, no Parque da Cidade, no Lago Paranoa ou quem sabe nos bares da cidade e em tantos outros lugares que outrora puderam se alegrar com a sua presença... E que tem também pessoas maravilhosas na suas melhores lembranças. Tenho saudades das histórias malucas e que são ainda mais quando contadas por você... Mas sabe o que mais me deixa triste e saudosa? É ficar tanto tempo sem ver o seu sorriso e sem ouvir as suas gargalhadas.

Beijos e aproveite tudo, muito, com toda a sua intensidade.

Hélio Sales Jr. disse...

O nome disso é BANZO!
:D
hheaiheaihhaehae!
:D

Hélio Sales Jr. disse...

Francamente poxa! Já faz uma semana!!!
:D