quarta-feira, 12 de março de 2008

Eh melhor ser alegre que ser triste.




Conservo ainda aquela velha tendencia de esconder as dores tao la no fundo que ate eu mesma esqueco que elas existem, mas tenho lidado com o maximo que consigo.

Tenho encarado algumas dores, e algumas delicias.
Outras, guardo conscientemente dentro de mim. Nao tenho energia pra elas agora.
O bacana eh que essa consciencia faz com que, como uma maquininha, algo apite, coce, cutuque aqui dentro, avisando: Agora voce tem energia pra isso! Chegou a hora de resolver aquilo!
E la vou eu, mais forte, mais segura, confiando nessa parte de mim que mandou o recado.

E me irrito quando comeco a ver (com essa consciencia toda!) que algumas pessoas extrememente amadas por mim atropelam escandolasamente essas dores, dando-lhes novos hematomas, novos arranhoes.
Nao sei se eh compaixao ou um sentimento esquisito de estar sendo injusticada pela necessidade de encarar as coisas. Por que eu nao posso viver alienada tambem?

Sei que quando a gente entra num processo como esse-tem momentos que a gente evolui, briga, cresce muito -da vontade de cobrar isso dos outros tambem. Eh que olhando de fora, o contrario parece incrivelmente mediocre.

Porem, ha que se dar tempo ao tempo. Cada um vive a sua propria historia, e da maneira que lhe cabe. De fato, tem gente que sofre mais. Tem gente que precisa se conhecer.
E tem gente que vive de olhos cobertos, tapados, que possue olhos cegos.
E que, aparentemente, nao precisa ver.

Eu acho que essas pequenas vitorias pessoais (das quais so eu fico sabendo!) tem me feito muito bem.
E eu nao sou de mexer em time que ta ganhando!

(parece ate que meu peito cresceu!)

:o)


Por Anita Petry

domingo, 24 de fevereiro de 2008

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

De manha.


Acordei com colica. Daquelas de matar, sabe?

A angustia me atacou de novo. Eh estranha essa angustia fisica onde o peito nao doi, tampouco a consciencia. Essa angustia eh das pernas.
Nao eh tristeza; eh dor fisica, osso doendo. As pernas estao descansadas, relaxadas, mas ainda assim me matando.
Parece que algo se contrai la dentro, um musculo que existe dentro dos ossos, dentro do femur.

Desgraca.

Tomo 4 remedios diferentes, todos daquele tipo que diz: nao combinar com outra medicacao que contenha a subatancia X, e vou pra aula. Sentada no banco gelado da estacao, penso: New York, New York.
Nao sei o que isso quer dizer.
Vem um trem (que obviamente nao eh o meu) e faz um barulho descomunal e ensurdecedor. Penso: New York, New York.

Lembro-me do Escort quentinho, dos canteiros perto do Super Maia, dos bequinhos na rua do Indi (tanto o da Mariana Toti, quanto o da Flora e da Luiza); Me lembro do cheiro do almoco (que vinha da cozinha como feito por magica), da piscina (graciosa e imovel), da grama (mais verde que a do vizinho!).

Puta merda! Que frio!

Tenho passado mal com o frio, sabe?
Essa mudanca brusca de estar congelando e no minuto seguinte arrancar a roupa por causa do suor, ou ate de sentir frio e suar ao mesmo tempo (quando corro atrasada por essas ruas), tem me deixado tonta, enjoada, mais cansada.

Aula de teoria teatral. Discussao interessante sobre peca maravilhosa. Sala quentinha. Colica (como que por milagre) indo embora com o calor gostoso que me permite relaxar.

Anseio a chegada do verao como se a vida fosse mudar.
Os dias com certeza mudarao; mas a vida, na verdade, ja mudou!

Mando um beijo, soprado de minhas maos, coloco a bagagem nas costas e, confiando nas pernas angustiadas, me ponho de novo a caminhar.

Amo essa sensacao estranha como a propria vida. E eh como um prazer infinito assistir ao fim da angustia, magica do ser humano.


Por Anita Petry

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Em resposta de amor eterno (ao som de Belchior)


Saudades da minha amiga.
Sempre e tanta.

Saudade boa de tanta poesia.
Saudade boa de tanto sorriso.

Saudade de choro desenfreado que sabe que logo vai secar.
Saudade de tanta cumplicidade, parceria, sintonia!

Saudade de quem esta tao longe e tao perto, como ela mesma diz.
Saudade gostosa que me apresso em curtir.

Saudade gostosa que em breve se estanca.
Saudade em que me agarro agora.
Saudade que daqui a pouco se vai.

Vai, saudade!
Vai comer paella, tomar canas, mirar el cielo bonito de Madrid!

Eu vou; se ela quiser, que venha junto comigo.


Por Anita Petry

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

A música chegou.



Chegou a música do lado de cá,

Confortante aquela que não é de todo canto,


[do trem, do pátio, do Square]


Aquela que cala a gente,

Que silencia o monte.


Aquela que quebra

A quizumba do bonde.


A música do meu canto.

Iracema da América que sou.


Iracema que pena

Que segue, que ouve.


"Voa, Iracema!"

As palavras se perdem

As referências se esvaem


"Mas voa, menina!"

Agarra as raízes

Que assim elas não caem.


"Mira o céu!"

O mesmo céu de teus amores,

Mas olha pro chão; não tropeça!


Como é burra,

É burrinha.


Não faça assim, Iracema.

Vai-te com o vento.


Eu te mando a melodia atrás.

E prometo que chega a tempo.



Por Anita Petry

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

O direito a indignar-se.

(Esse texto foi escrito e engavetado, mas hoje senti que se ele não tivesse nascido há alguns meses, nasceria essa manhã.)

Sinto-me no direito de ficar indignada.
Sei que meus medos, meu silêncio arredio, minha dissimulação ensaiada, até essa minha insegurança estranha, doída, já causaram dor e ainda hão de causar.
Mas não falto com respeito, não traio lealdade, cumplicidade.
Sei ser companheira.
Se minhas frustrações, quando se deparam com a vida, machucam e fazem doer, não estou à parte dessa dor. Ela é minha as well, acredites. Não acho também que isso justifique o fato de fazer mal a quem está a minha volta sem, um dia, parar pra entender as coisas e realmente mudá-las.

O que andou me cutucando hoje foi uma consciência leve (até leve demais pro meu histórico sórdido), uma sensação muito boa de ter cuidado de quem é querido por mim, de quem me quer bem em troca.
Quando assim, te prepares, uma sensação de direito a indignar-se comeca a aparecer. Sim, sensação de “estou legitimamente autorizada a reclamar!”
Não sei bem de onde ela vem. Mas existe.
E não é boa coisa quando a gente percebe que foi o outro quem sujou a roupa. Ela não deixa de estar, como já estava há tempos, suja.
Quem me lembrou disso hoje foi a Cacá (que seria de mim sem as amigas-irmãs?), com uma frase que só amiga de tantas poderia dizer. E ela tem propriedade: "Eu sei que é foda essa coisa de decepção, quando gostamos de uma pessoa e ela trata a gente assim desse jeito... E você, entao? Nunca vi falando ou fazendo algo grosseiro assim com ninguém. Acho muito injusto. Você é sempre meiga, pra cima, carinhosa com as pessoas".

Como é bom ter alguém pra fazer a gente lembrar dos próprios atos.
Sim, a gente faz coisas boas que às vezes acaba esquecendo.

E essa minha calmaria tem dias contados.
Não, não vou sair por aí virando mesa de bar. Continuo sendo quem a vida me fez.
Agora, se for pra fazer justiça à minha pessoa, comprarei quantas brigas forem necessárias.
Cantar as mágoas todas pra longe pra evitar cara feia, discórdia, confusão, ainda é parte de mim. Mas guardar mágoa eu não guardo mais não. Faz a gente ficar feia.

Tenho gostado tanto de mim. Do meu jeito de amar os amigos, a música, o texto.
Da visceralidade de minha saudade pelos pequenos. Do meu jeito de querer ficar linda e acabar esquecendo de passar a maquiagem (putz!). Do meu jeito de querer saber tudo, ser grande atriz, orgulhar pai e mãe, ler toda a obra de Shakespeare!, e sempre terminar só filosofando mesmo, sentada no boteco.
Tenho gostado muito do meu jeito de esquecer as coisas ruins e guardar lembranças boas de tudo e todo mundo.

Sim, esse alguém que despertou o direito à indignação está desculpado, é claro, apesar de não ter nem pedido desculpas!

Eu preciso ir trabalhar.


Por Anita Petry

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008


"Teatro é ao vivo. Olho no olho, respirando o mesmo ar, sob a mesma temperatura, tendo vivido o mesmo dia na mesma cidade, ator e espectador estabelecem uma relação -real, simbólica, física, esotérica, intelectual, sexual -irrecuperável, irreversível e irreproduzível. Essa é sua força e sua maldição.


É a mais cruel da artes. Acontece ou não a cada apresentação. Em teatro não há segunda chance, bula nem perdão garantido pelas boas intenções. Vale o vivido. Ou não vale nada. Não dá pra deixar na estante e tentar ler depois de uns anos. Não dá pra ver de novo numa sessão da tarde e só então se emocionar. Não dá pra esbarrar com a obra num museu e viver uma epifania."


Aimar Labaki


"Nosso ritual diário de comunhão com o público ainda vai ser percebido como ouro, uma coisa rara e um luxo, pois o nosso teatro é apontado para o futuro, com ambição de que a arte, como o futebol, seja o esporte das multidões."


Zé Celso


O teatro, essa arte estranha e cruel, tomou conta mais uma vez de minha vida. Ou ao menos de meus dias.
Um brinde!